O avanço silencioso da depressão e como o exercício físico pode ajudar
A estimativa mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que mais de 300 milhões de pessoas convivem com a depressão no mundo, um aumento de 18% na comparação com o período que vai de 2005 a 2015. Ao longo da vida estima-se que entre cada 100 pessoas, 15 apresentam ou já apresentaram algum episódio depressivo. No Brasil, os dados da organização indicam 11,5 milhões de pessoas afetadas - o equivalente a 5,8% da população. É o país com maior prevalência de casos na América Latina.
Em 2016, 75,3 mil trabalhadores com depressão tiveram direito a auxílio-doença no Brasil, o equivalente a quase 38% de todas as licenças médicas motivadas por transtornos mentais e comportamentais naquele ano.
Para os pacientes, os estragos vão além dos efeitos do transtorno em si. Nos últimos anos, pesquisas científicas têm reforçado que a depressão tornou-se um importante fator de risco para outro mal sério - as doenças cardíacas, que respondem por 30% de todas as mortes no Brasil.
"Na hierarquia dos fatores que causam doenças cardiovasculares, a depressão é tão importante quanto o colesterol alto", afirma o cardiologista e professor Carlos Alberto Pastore, diretor de serviços médicos e supervisor da seção de eletrocardiografia do Instituto do Coração, de São Paulo.
Em geral, a ocorrência da depressão se torna mais comum a partir dos 30 ou 40 anos, embora possa afetar pessoas de qualquer idade. Estudos científicos sobre a influência do smartphone e da internet no isolamento de jovens e adolescentes - e seu papel na depressão - ainda são incipientes. Parte da comunidade médica diz que as novas gerações estão preparadas para lidar com as tecnologias recentes, sem repercussões mais graves para a saúde mental. Mas outra parte está preocupada. "[O uso do celular e das redes sociais] dá a impressão de uma comunicação intensa, mas não há nenhum contato ao vivo", diz Souza. "É um rebaixamento da vivência humana”.
Além das drogas (como fluoxetina e vortioxetina), os médicos estão adotando tratamentos com abordagens mais amplas, principalmente para evitar as complicações cardíacas. No Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, uma das linhas é a cardiologia comportamental. São pesquisas que buscam relacionar fatores psicossociais - estresse, renda, trabalho, relações familiares etc. - com a incidência de doenças cardiovasculares. Os estudos também diagnosticam o quanto esse estado de ânimo afeta os pacientes na manutenção dos tratamentos e das recomendações médicas. "É comum que as pessoas deprimidas ignorem os cuidados que devem seguir para não adoecer novamente", diz o cardiologista Marcelo Katz, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa Cardiovascular (Napec) do Einstein.
Na Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração (Incor), o trabalho com pacientes que passaram por doenças graves busca tirá-los da espiral negativa eventualmente provocada por esses problemas. "Usamos o exercício físico porque é uma atividade que produz endorfina, melhorando e estimulando a sensação de bem-estar. Ao mesmo tempo, atividades físicas combatem a obesidade, diminuem o colesterol, atuam contra todos os fatores de risco", afirma o coordenador da unidade, Carlos Eduardo Negrão, professor titular de fisiologia do exercício da Universidade de São Paulo (USP).
Fonte: Valor Econômico